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Santuário promove seu 1º Congresso Acadêmico Eucarístico e disponibiliza materiais para estudo

O evento incentivou o aprofundamento sobre a Eucaristia, com abordagens bíblica, eclesial, ecumênica e moral.

Foto: Eduardo Rufino

A primeira edição do Congresso Acadêmico Eucarístico da Paróquia/Santuário São Judas Tadeu do Jabaquara, em São Paulo/SP, ocorreu nos dias 06, 07, 08 e 09 de junho, reunindo renomados conferencistas convidados e 150 participantes (86 presencialmente e 64 online), entre eles padres e agentes de diversas pastorais, para aprofundar e debater temas importantes da espiritualidade cristã católica relacionados à Eucaristia e sua centralidade na Igreja.

O evento, coordenado pelo Pe. Rarden Pedrosa,scj, aconteceu sob um clima de muita expectativa: “Os diversos setores de nossa vida eclesial estão retomando as atividades de pesquisa, formação e evangelização, depois do afastamento pela pandemia da Covid-19. Nesse contexto, o Santuário deseja ser um promotor da pesquisa e formação a partir de temáticas desafiadoras para a evangelização do nosso tempo moderno”, diz o padre, lembrando a proximidade da abertura do Jubileu de Prata da Paróquia São Judas Tadeu enquanto Santuário, em 18 de novembro deste ano.

Segundo o Pe. Rarden, “este não é apenas um evento em consonância com a qualidade da pesquisa no meio eclesial, mas reforça a necessidade de aprofundarmos, de forma acadêmica, os temas que estão inclusos em nossa espiritualidade,” afirma.

O 1º Congresso Acadêmico do Santuário São Judas Tadeu abordou a Eucaristia, a partir do lema inspirado por Santo Tomás de Aquino: “No fundo, o feito da Eucaristia é a transformação do homem em Deus”. Ao longo de quatro dias, os participantes do Congresso puderam aprofundar-se sobre a “Eucaristia e a Igreja” com a oração e as reflexões de Dom Ângelo A. Mezzari,RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região Episcopal Ipiranga; sobre a “Eucaristia e o Ecumenismo” com o Pe. Marcial Maçaneiro,scj, Professor da PUC-PR e UCP-Portugal; sobre a “Eucaristia e a Sagrada Escritura” com o Pe. Cláudio Buss,scj, Professor da Faculdade Dehoniana e no último dia do evento sobre a “Eucaristia e a Moral/Direito” com palestras de Pe. Mário Marcelo,scj Presidente da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e Professor da Faculdade Dehoniana e do Pe. Paulo Profilo, SDB, Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo e UNISAL – Pio XI – SP, com um debate entre esses últimos mediado pelo Pe. Lucas Mello,scj, Professor da Faculdade Dehoniana.

Para o Padre Rarden, essas oportunidades para aprofundamento e conhecimento deveriam se repetir a cada ano, trazendo para todos que desejam ampliar e reciclar seus conhecimentos, um conjunto de formações e debates em diversos campos do saber: “O diálogo é fundamental para o crescimento de toda a humanidade, portanto, o Congresso Acadêmico é um encontro de diversas opiniões articuladas e fundamentadas em pesquisa e conhecimento, na busca constante da verdade”, completou o Padre Rarden, que ao final do evento, juntamente com o Vice-Reitor do Santuário, o Pe. Cleiton Guimarães dos Santos,scj  anunciou que em Junho de 2023 está prevista a sua segunda edição.


Os materiais utilizados pelos palestrantes foram cedidos e estão disponíveis para download. Veja abaixo:

 


PRIMEIRO DIA

Foto: Sami Abraão

O primeiro dia do Congresso Acadêmico Eucarístico contou com a presença de Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região Episcopal Ipiranga, que realizou as orações da abertura, com recitação do hino “Louva, ó Sião, o Salvador”, criado por Santo Tomás de Aquino, em 1264, a pedido do Papa Urbano IV para a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi). Em seguida foi proclamado o Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas, capítulo 24, versículos 28-35.

Após as orações e bênção do Bispo, o Pároco e Reitor do Santuário São Judas Tadeu, Pe. Daniel Aparecido de Campos,scj tomou a palavra, dando as boas-vindas aos participantes presentes no Salão Dehon do Santuário e também a quem acompanhava online, mencionando que a Eucaristia é uma das riquezas que a Igreja nos dá, sendo alimento para a nossa vida: “Que possamos aproveitar para nos aproximar mais deste Sacramento. Todo conhecimento adquirido deve ser compartilhado para que o bem e a fé prevaleçam contra as forças do mal e nos fortaleçam”, disse o Padre Daniel, agradecendo em seguida a todos os apoiadores do evento.

Após ser devidamente apresentado pelo Pe. Rarden Pedrosa,scj, que leu o resumo de sua biografia, Dom Ângelo iniciou sua Conferência com o tema: “Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” mencionando a sua alegria por participar deste 1º Congresso Acadêmico às vésperas da Paróquia São Judas Tadeu celebrar seu Jubileu de Prata como Santuário (em 18/11/2022).

Dom Ângelo iniciou dizendo que a nossa fé não pode ser separada da vida, que o testemunho cristão tem consequências e lembra os mais de 50 fiéis que foram assassinados na comunidade reunida para a celebração de Pentecostes na Nigéria, no dia 05 de junho. “Em Cristo vivemos, somos, existimos e morremos. Façamos memória e vamos rezar pelos nossos irmãos e irmãs da Nigéria: pais, mães e crianças que foram massacrados por estarem numa igreja, celebrando a Eucaristia,” convidou o Bispo auxiliar da Região Ipiranga aos presentes.

Falou também sobre a centralidade da Eucaristia no magistério da Igreja em todos os tempos, pois além de estar no centro, ela constrói a Igreja e esta, a Igreja, faz a Eucaristia. “É preciso aprofundar esse mistério, pois há pessoas que não compreendem o que é a Eucaristia e mesmo assim comungam. Há muitos abusos e desrespeitos que poderiam ser evitados. Há muitas realidades desafiadoras, por isso a necessidade de aprofundamento do ponto de vista teológico e pastoral. Tarefa de uma boa catequese. É triste a falta de amor à Eucaristia. Por isso é importante fortalecer e reavivar a fé e repropor a centralidade da Eucaristia, como está fazendo hoje o Santuário São Judas Tadeu,” disse Dom Ângelo.

E o Bispo continuou: “Não existiria a Eucaristia se não existisse a Igreja. Positivamente a Eucaristia revela, edifica, constrói, plasma a Igreja. É essencial a participação na Eucaristia, sendo Igreja, no dia a dia, segundo sua vocação. A Igreja vai tornando a Eucaristia eclesial. Então brota o nosso serviço de evangelização, fonte da fé, amor e esperança, e somos enviados como discípulos e missionários, pois é o próprio tesouro – Jesus Cristo – Páscoa, Pão da Vida, manancial de todas as graças. Cada um de nós, unidos a ele, nos unimos a todos que o recebem.

Recebendo o Cristo, nos tornamos um único Corpo que é a Igreja. Toda comunidade cristã está unida à cabeça que é o Cristo, o Cordeiro Pascal, em resposta ao seu mandamento: ‘Fazei isto em memória de mim’.

No seu corpo e nos tornando seus membros, recebemos a mesma vida e missão de Jesus Cristo. Comungar é a antecipação da esperança do grande banquete da vida eterna, para onde iremos. A dimensão da esperança faz a Igreja comunidade do amor, da caridade, pois nela Cristo oferece-se inteiramente, com amor pleno. E estamos unidos num só corpo e espírito quando nos amamos como ele nos ama. A grande gravidade do pecado de Judas Iscariotes é o abandono da comunhão. Não foi digno de comungar a vida de Jesus. No mistério Eucarístico, encontramos o mistério da luz e a força de Maria que trouxe ao mundo aquele que veio renovar todas as coisas,” completa o Bispo.

Dom Ângelo encerrou sua conferência dando testemunho de Dom Claúdio Hummes, com quem tem celebrado a Santa Missa todos os dias, pela manhã. O Arcebispo emérito e vigário-geral da Arquidiocese de São Paulo tem passado pela provação de um câncer. Relata Dom Ângelo: “No momento da consagração, com esforço, Dom Cláudio vai dizendo as palavras da epiclese e encontra forças. No mistério da Eucaristia, ele comunga e se fortalece. Isso no faz pensar que no fim, sou eu e Jesus, o Pão da Vida. Lembrei e dei esse exemplo para que rezem por ele. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!” e assim finaliza o conferencista, no primeiro dia do Congresso, antes do intervalo e do momento de responder as perguntas dos participantes.

O Pe. Rarden indicou para leitura os documentos: “Sacramentum Caritatis” (Papa Bento XVI) e “Ecclesia de Eucharistia” (Papa João Paulo II) para o aprofundamento da conferência de Dom Ângelo. Depois, conduziu o sorteio de brindes oferecidos pelos apoiadores do evento aos presentes no Salão Dehon, entre eles: livros, jogo de alfaias, pacotes de café gourmet. Seguiram-se 15 minutos de intervalo para o coffee-break.

No momento de perguntas a Dom Ângelo, logo após o intervalo, surgiram questões como a comunhão ou não para casais em segunda união, também para as pessoas que não se confessam com frequência e outras perguntas sobre a celebração da Eucaristia e liturgia da Igreja. O Bispo, entre outras coisas, mencionou que ninguém pode apontar quem é digno ou não de participar da Eucaristia, mas a própria consciência de cada um e que todos são chamados a participar da vida na Igreja, mesmo sem poder comungar. “Somos mediadores da Eucaristia, não juízes dos fiéis, pois há a grande misericórdia de Deus envolvida.” O Bispo concluiu rezando pela intenção particular do Santuário São Judas Tadeu e sua missão evangelizadora e social, pelo Congresso Acadêmico Eucarístico que se inicia, pelos irmãos e irmãs da Nigéria que morreram manifestando sua fé. E finalmente, Dom Ângelo abençoou os presentes, agradecendo a iniciativa que foi apoiada pela Arquidiocese de São Paulo, desejando que seja frutuosa.


SEGUNDO DIA

O segundo dia do Congresso Acadêmico Eucarístico contou com a presença do Pe. Marcial Maçaneiro,scj, da Comissão Internacional de Diálogo Católico-Pentecostal (Vaticano), PUCPR e UCP Lisboa (Portugal), que falou sobre a “Eucaristia e a unidade dos cristãos”.

Foto: Renata Souza

Pe. Marcial iniciou dizendo que a Eucaristia nunca foi causa de divisão entre as igrejas cristãs, mas foi na verdade uma vítima das inimizades e discussões sobre ideologias e interpretação da Sagrada Escritura: “A Eucaristia não é um problema ecumênico, é promessa e presença de Jesus! Não é problema, é graça. O diálogo ecumênico soma experiências complementares e é edificante de uma Igreja para outra. Quando se conversa, passa do problema para a graça,” pontua o Padre.

Em seguida, Pe. Marcial explicou sobre algumas palavras relacionadas à Eucaristia que têm origem grega e seus significados, como: ação de graças, partilha, comunhão e entrega. Disse que o sacrifício “cruento” de Jesus Cristo foi uma vez por todas na Cruz há quase 2 mil anos e que em cada Eucaristia, até hoje, Jesus se dá para a Igreja, mas que está vivo nela. Lembra que Cristo morreu, anuncia que ainda vive ressuscitado e que virá novamente e que: “outras palavras como Banquete do Reino, Ceia Pascal, Nova Aliança, Novo Cordeiro… dizem respeito ao mesmo Sacramento que concentra, sintetiza, todo o Mistério da Salvação”, enfatiza.

Em seguida, Pe. Marcial conduz sua conferência apresentando slides de variados ritos celebrativos, como dos cristãos árabes, sírios, que têm o jeito de rezar dos primeiros séculos do cristianismo, com pés descalços, por exemplo. Apresentou e explicou algumas Liturgias da Ceia do Senhor, memorial da Páscoa e banquete da Nova Aliança de Rito sírio-ocidental, sírio-oriental, copta, etiópico, armênio e bizantino. Também falou sobre compreensões teológicas da Eucaristia, expressões litúrgicas Luteranas Reformados, Metodistas, Presbiterianos, Congregacionais e Pentecostais: clássicos e neopentecostais.

Após o intervalo de 15 minutos e do sorteio de brindes entre os participantes presentes, abriu-se espaço para as perguntas. Neste momento, Pe. Marcial mencionou que a Igreja é a esposa de Jesus e se entrega a ela. Está vivo e vem visitar sua esposa, peregrina nesse mundo, em cada Eucaristia. Em Efésios 5,25, há a Ceia da Aliança, que renova a unidade da Igreja com o Senhor. Jesus que se dá à comunidade, oblação e redenção: “Comungar comunica a graça para a santificação do comungante.

Embora sendo muitos, somos um só Corpo porque comungamos do mesmo Pão que é Jesus”, explicou o Padre que também procurou estabelecer a diferença entre a transubstanciação e consubstanciação, que segundo ele, é um conceito sutil, de São Tomás de Aquino: “Eis um exemplo prático para comparar: como as cadeiras com estrutura de ferro e plástico e a outra feita em madeira. Matéria diferente, substância é a cadeira. Na matéria, o pão continua pão e o vinho continua vinho. O que vejo é isso, mas na verdade é Jesus Cristo que está lá. A matéria não muda. Sob as espécies de pão, é Jesus ressuscitado é quem está ali. É o seu corpo e sangue inteiros no pão e também no vinho. Quem tem que convencer que Jesus está alí é o Espírito Santo derramado em cada um pelo Batismo”, frisou o Pe. Marcial, que também explicou sobre o sentido da oblação e o sacrifício.

Foi um momento descontraído quando o Pe. Marcial disse que Jesus Cristo sentava e comia com as pessoas, até depois de ressuscitado e que ele ia sempre onde tinha comida. O Padre lembrou de um livro chamado “Fomes contemporâneas”, da Professora Caroline, Editora PucPress, disponível online na Amazon, gratuitamente, em que um capítulo é de sua autoria. Trata-se de um “livro de missão, da PUC do Paraná” que fala sobre o significado de “comer juntos” na cultura de Jesus.

Depois, Pe. Marcial respondeu questões sobre a preparação que as crianças devem ter antes da sua primeira Eucaristia, sobre o Sacramento ser frutuoso pela participação do sujeito. “A graça vem antes do rito e o Espírito Santo antes dos ministros. O Espírito Santo busca pessoas mais abertas para a verdade”, concluiu.


TERCEIRO DIA

O terceiro dia do Congresso Acadêmico Eucarístico contou com a presença do Pe. Cláudio Buss,scj Professor da Faculdade Dehoniana, do Vale do Paraíba, em Taubaté-SP, mestrado em Teologia Bíblica pela Pontificia Università Gregoriana.

Foto: Eduardo Rufino

O Pe. Buss contextualizou sobre as Sagradas Escrituras e sua ligação com a Eucaristia, desde o Antigo Testamento. Falou sobre os sacrifícios oferecidos a Deus, no Antigo Testamento, onde os animais eram sacrificados e queimados para a expiação dos pecados (Êxodo 38,1-7) e em seguida descreveu como eram realizadas nas famílias judaicas a Ceia Pascal, todos os anos e explicou o seu sentido espiritual e teológico.

Abordando detalhes sobre a Ceia da Páscoa tradicional judaica, o Pe. Cláudio falou do momento da santificação, o qiddush , em que o pai da família pronuncia a sua primeira bênção quando é servido o primeiro cálice de vinho, e pronuncia as palavras: “Bendito sejas tu, Senhor nosso Deus…”  e todos bebem do cálice, lavam as mãos e trazem a comida à mesa. Comem “verdura amarga” e partem o pão ázimo (“matza”) em duas porções, uma das quais é escondida para ser tomada ao final da ceia e a outra dada aos comensais. Também se abre a porta, convidando simbolicamente os transeuntes que precisam de lar.

Segundo o Pe. Cláudio, o segundo momento da Ceia é a haggadah, quando, depois de servido o segundo cálice, há um ritual, a partir das perguntas das crianças e das respostas do pai, sobre a história e o sentido desta noite pascal. É contada a história da ida ao Egito, da escravidão e libertação com Moisés. A homilia é intercalada com cantos de louvor a Deus e, sobretudo, com uma “exortação” do pai: “em toda a geração cada um é obrigado a considerar-se como se ele mesmo tivesse saído do Egito”. A birat há-mazon é a ação de graças depois da refeição. Serve-se o terceiro cálice de vinho e então o pai pronuncia a bênção (“berakah”) mais solene da ceia. “Bendito sejas tu, Senhor nosso Deus, que alimentas…” E todos bebem do terceiro cálice.

O quarto momento é o hallel, os Salmos de louvor e finalização, com as últimas palavras de bênção para a futuro. Segundo o Padre Cláudio, “a ceia da Páscoa é para os judeus um autêntico sacramento, um sinal e celebração da salvação operada por Deus em favor deles e renova a cada ano a aliança do povo com Deus, aliança solenemente celebrada no monte Sinai e que agora se atualiza (cf. Ex 13,3-4)”, afirma, descrevendo cada um dos elementos, que vão de encontro ao que temos familiaridade na Santa Missa: pão ázimo, vinho, o Cordeiro Pascal, que lembra o cordeiro na saída do povo de Deus do Egito.

Em seguida, o conferencista descreve a Eucaristia no Novo Testamento, a “última Ceia de Jesus”, compara os textos bíblicos dos Evangelistas e comenta as citações das Cartas Paulinas. Também falou sobre os pronunciamentos de Jesus que se apoiam na primeira relação daqueles fatos, que encontramos na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios (1Cor 11,23-25). O Apóstolo deixa claro que a Ceia que a comunidade realiza não é uma confraternização, onde os participantes vão para se fartarem e embriagarem ou uma ceia qualquer, mas uma ceia que anuncia e rememora a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Segundo o Padre, “o que se celebra é a memória do Senhor e a aliança verdadeira, definitiva se alicerça, portanto, na pessoa do Filho de Deus encarnado. Nele a união entre divindade e humanidade assume uma forma única e perfeita.”

Em sua conclusão, Pe. Cláudio diz que a expressão “ceia do Senhor” qualifica não a Última Ceia de Jesus, mas a refeição comunitária eucarística dos cristãos, a qual tem, naturalmente, a sua pré-história, repetindo provavelmente sua explicação com base na ceia pascal hebraica. Com esta “locução” se acentua a dimensão da presença do próprio Jesus no momento da celebração: não só enquanto ele está na origem dela, mas sobretudo ele é, por assim dizer, quem convida e o próprio alimento a ser consumido.

Para o Pe. Cláudio: “O que impressiona nos momentos de celebração eucarística nas primeiras Igrejas é a espontaneidade, favorecida também pela ausência de um quadro ritual excessivamente rígido. Vê-se que entre aqueles momentos e a vida quotidiana não há uma grande separação. Com efeito, o Espírito de Cristo que preside a ekkesía, ou seja, o grupo reunido para o banquete eucarístico”, conclui.

Em seguida, após o intervalo, o Padre Buss se colocou à disposição para tirar as dúvidas dos participantes e responder perguntas, antes da conclusão do penúltimo dia do Congresso Acadêmico Eucarístico.


QUARTO DIA

Foto: Renata Souza

O quarto e último dia do Congresso Acadêmico Eucarístico será um debate mediado pelo Pe. Lucas Mello,scj, Professor da Faculdade Dehoniana (ao meio, na foto), envolvendo o Pe. Paulo Profilo, SDB, Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo e UNISAL – Pio XI/SP (à direita), que responderá às questões do ponto de vista do Direito Canônico e o Pe. Mário Marcelo,scj, Presidente da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e Professor da Faculdade Dehoniana (à esquerda), que responderá às mesmas questões, mas do ponto de vista moral. Quem iniciou foi o mestre Pe. Paulo Profilo, agradecendo ao convite e respondendo à questão: “Quando podemos comungar?” segundo o Direito Canônico, que, segundo ele, “tem como fim último a “salvação das almas” e como instrumento para salvaguardar o projeto de comunhão da Igreja”. Para o Pe. Paulo, nós, “quando somos batizados e como tal, estamos sujeitos aos direitos e deveres da Igreja” e em seguida, cita algumas situações em que pode-se ou não comungar.

Os batizados podem receber a Eucaristia acima dos sete anos de idade, com o uso da razão, elemento essencial da capacidade jurídica, com fé e devoção, sabendo distinguir o pão da Eucaristia (Pão da Vida). O jejum eucarístico não é uma hora antes de começar a missa, é uma hora antes da comunhão.

E alguns casos em que não podem receber a Eucaristia, são os excomungados, pessoas com pecado grave, as que persistem em pecado grave público, no máximo comungar duas vezes ao dia, com exceção em forma de viático (eminência de morte), os pertencentes à maçonaria, os batizados acatólicos (outras religiões), pois não fazem comunhão plena com os católicos.

Em seguida, com a palavra, o Pe. Mário Marcelo, scj, fala sobre a mesma questão, mas do ponto de vista moral, e causa risos ao introduzir dizendo: “Quem pode comungar? Ninguém!”

Citando o documento “Ecclesia de Eucharistia,” do Santo Papa João Paulo II, o Pe. Mário diz que estar preparado mesmo para comungar ninguém está, nem mesmo o Padre, pois plenamente santo para receber Cristo, ninguém de nós ainda está. “Cabe cada um examinar-se, ter consciência, dizendo ‘Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo!’ em atitude honesta e humilde diante de Deus. Todos somos convidados para o Banquete Eucarístico e ao sentir-se convidado, ao próprio fiel é a quem compete o juízo de estado de graça”, pondera o Padre, que continua dizendo: “A Eucaristia é o alimento para os fracos, o ágape, amor perfeito de Deus e com uma consciência reta e honesta, o católico cresce na vida da graça. Na perspectiva da misericórdia não relativizo as normas, mas é responsabilidade minha ter atitude coerente, sincera, com discernimento, pois posso integrar todas as pessoas na comunidade e ensinar que podemos comungar de outras formas, no irmão, por exemplo,” diz o Padre Mário, que continua dizendo que o “pecado grave”, motivo pelo qual não se pode comungar, é uma reflexão que cada um deve fazer-se antes de dirigir-se à Mesa da Eucaristia.

Após o momento de sorteio de brindes, e o intervalo de 15 minutos, o debate mediado pelo Pe. Lucas Mello,scj, Professor da Faculdade Dehoniana, reiniciou com a colocação da seguinte questão: Quando recebemos a absolvição no Sacramento da Reconciliação, voltamos ao estado de graça do nosso Batismo ou é um caminho a ser percorrido e os instrumentos são os Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia?

O Pe. Paulo diz que segundo o Papa Francisco coloca-se aqui a questão da formação da consciência e da direção espiritual, como esta pode ajudar no discernimento? O Direito Canônico é parâmetro e ajuda na formação da consciência. O desafio é fazer confronto entre a lei e a situação específica de cada caso. Há o cuidado com o “legalismo”, com o “subjetivismo” ou relativismo.

A falta da vivência dos preceitos morais, como a Igreja ensina, que impacto tem diante da graça de Deus? Para o Pe. Mário a lei moral é inata da nossa consciência, vem da escuta do nosso coração. Entra a graça de Deus dizendo como no Salmo: “Mesmo que eu não queira, converte-me, Senhor!”  É necessário equilibrar a dignidade da santidade do Sacramento. Algumas pessoas têm direito, mas não têm condições de acessar esse direito. Meio termo entre o direito da pessoa e o Sacramento, precisa ter condições, lugar, onde a graça possa agir. Em caso de separações e casais em nova união, é preciso a avaliação de cada caso, pois o fracasso do casamento pode ter vários fatores, por isso a necessidade do acompanhamento para conhecer cada caso e ter discernimento.

O Pe. Mário Marcelo diz que pode-se ter um acompanhamento na vida espiritual e que o Padre vai até dizer se a pessoa tem condições ou não para comungar, mas é ela mesma que terá que decidir em certo momento.

Outras questões que foram discutidas: Excomunhão é normal? O amor apaga uma multidão de pecados? A nulidade de casamentos no caso de violência doméstica, o aborto, quantas vezes pode-se comungar num mesmo dia, o que são os batizados acatólicos?

Em suas palavras finais no Congresso, Pe. Mário diz que o acesso à Eucaristia não é somente buscar a Eucaristia, mas ter o desejo real de crescer na vida espiritual, viver com Deus para santificar-se.

Na finalização, o Pe. Paulo falou sobre a funcionalidade da lei e que há questões impossíveis de responder sem aprofundar. É preciso ter coerência do que professo e vivo. A lei forma consciência. Nem tudo o que é legal é moral. A Igreja será sempre absolutamente a favor da vida. Ajudando a formar a consciência, é preciso ter coerência com o que comungamos e celebramos. O amor é essencial para que possamos atingir a nossa meta de vida em plenitude.

Nos agradecimentos, ambos mencionaram como esse tipo de Congresso incentiva as pessoas a crescerem em sua fé, a partir de uma compreensão maior.

Equipe de eventos, padres do Santuário e convidados do último dia. Foto: Renata Souza

Com a palavra, o Vice-Reitor do Santuário São Judas Tadeu, o Pe. Cleiton Guimarães dos Santos,scj, fez agradecimentos a todos os apoiadores, citando o nome de todos, em nome do Pároco e Reitor do Santuário, Pe. Daniel Aparecido de Campos,scj.

Agradeceu a todos os conferencistas, citando-os, aos funcionários e todos os participantes alí presentes e também os que acompanharam o evento de maneira remota, pela internet. Pe. Rarden Pedrosa,scj disse que o link com os slides apresentados no Congresso junto a uma matéria jornalística serão disponibilizados no site do Santuário São Judas Tadeu. Foi anunciado que há previsão para que um próximo Congresso Acadêmico Eucarístico seja realizado no Santuário no ano que vem, em junho de 2023. Em seguida, o Pe Cleiton concedeu a bênção e encerrou, agradecendo mais uma vez a presença e participação de todos neste evento.

 

Por Priscila Thomé Nuzzi, Departamento de Comunicação e Marketing do Santuário São Judas Tadeu

4 Comentários
  • Rosângela Margareth Grego Lemos
    Postado em 08:07h, 17 junho Responder

    Foi maravilhoso!
    Já esperando o próximo.

  • Pedro Ferreira Ramos
    Postado em 11:09h, 17 junho Responder

    Parabéns aos Organizadores do Congresso, foi muito proveitoso participar, isto é muito para quem quer caminhar numa vida de fé e seguir os passos de nossa comunidade Católica. Agradeço de coração e espero poder participar do próximo ano. Um grande abraço.

  • Darci Piva
    Postado em 19:19h, 17 junho Responder

    Parabéns,a todos organizadores o congresso Eucaristico foi ótimo.Espero poder participar do próximo.. Agradeço a todos ,e Deus abençoe a todos os sacerdotes e a todos nós!

  • Sônia Regina Andrade Saraiva de Souza
    Postado em 12:09h, 20 junho Responder

    Muito obrigada pelo material ,enviado referente ao Congresso Eucarístico
    Paz de Cristo.

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