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“Torna-te Naquele que comungas”

A graça de Deus faz com que o ser humano, aberto e crente, alcance o mais profundo de sua humanidade

A Eucaristia é o alimento que vai muito além de qualquer outra palavra. Ela expressa o verdadeiro futuro da ressurreição do ser humano proclamada no agora (cf. Sacrosanctum Concilium n.7). Portanto, se “o batismo é o alimento que traz à vida, a eucaristia é o alimento que mantém o homem vivo espiritualmente. É participação sacramental na paixão de Cristo”.

O mistério pascal é e está no centro da fé cristã, é ele que “confirma a condescendência de Deus e a kénosis do Filho, permanecendo a transcendência absoluta na Trindade” (Sínodo dos Bispos “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, 2005, n. 38).

Uma vez que somos gerados pelo Pai no Filho por meio da fé, a Eucaristia se torna o alimento nutritivo de nossa geração. Na comunhão eucarística homem e Deus se relacionam no amor que os envolve. “A comunhão com Cristo e com a Igreja faz com que a dimensão pessoal da fé tenda constantemente para a dimensão eclesial, precisamente como faz a liturgia desde a profissão de fé batismal.

Por isso, sem batismo não se tem acesso à Eucaristia, que pressupõe a fé” (Sínodo dos Bispos “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, 2005, n. 38). Há um mistério escatológico que cobre a Eucaristia, isto é, na Eucaristia antecipamos o último dia de nossas vidas. Em toda Eucaristia aprofundamos o mistério de nossa filiação, nos tornando também eucarísticos. Como afirma Santo Agostinho: “torna-te Naquele que comungas”.

Em todas as celebrações eucarísticas, se concretiza o mistério pascal de Cristo, na sua paixão, morte e ressurreição. A Eucaristia também é salvífica, pois dela emana a força da Trindade como alimento para o ser humano. Consequentemente, “(…) a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium n.10). A liturgia, celebrada e vivida diariamente, atualiza sempre o mistério pascal. O mistério pascal vai além da liturgia, pois fundamenta a vida de cada ser humano.

A Eucaristia é o único sacrifício enquanto atualizado e pré-santificado nas múltiplas celebrações, isto é, memorial, ou seja, memória do coração que faz sempre recordar o fato da missa. Desta maneira, é justamente aqui, no coração da liturgia eucarística, que aquela tensão vivida, entre o já e o ainda não, se atenua. Jesus Cristo instituiu na última Ceia o sacrifício eucarístico do seu corpo e do seu sangue para perpetuar no decorrer dos séculos até o dia de seu retorno, no qual Ele confirmará a

Igreja, como sua amada esposa, sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo da caridade e banquete pascal (cf. 1Cor 10,17; 12,1-13; 12,27; Rm 6,4-5). Neste sentido, tanto no batismo como na Eucaristia celebra-se a morte de Jesus Cristo. Desta forma, a água que se coloca no vinho indica a realidade contida no batismo.

O mistério pascal de Jesus Cristo é o centro de toda a fé e de toda espiritualidade cristã. “Colocado no contexto das outras formas de presença, o mistério pascal permite compreender a natureza da presença eucarística, que se dá na transformação das espécies, ou seja, na transubstanciação.

O pão torna-se corpo oferecido e partido para a nossa salvação – Corpus Christi, salva me; o vinho torna-se sangue derramado, superabundante de prelibação divina – Sanguis Christi, inebria me” (Sínodo dos Bispos “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, 2005, n. 38).

O evento da paixão, morte e ressurreição de Jesus insere na história da humanidade uma nova lógica de pensar, edificar conceitos e traçar projetos. A partir da Páscoa já não se pode pensar a fé sem abordar o Cristo como centro e conteúdo. “Do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo a Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial” (Ecclesia de Eucharistia 3).

Agostinho trata a dimensão eucarística a partir da verdadeira presença real de Cristo. “A presença do Senhor no sacramento foi querida por ele próprio para ficar junto do ser humano e oferecer-se como seu alimento, para manter-se no seio da comunidade eclesial” (Sínodo dos Bispos “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, 2005, n. 39).

Desse modo, percebemos um realismo eucarístico, ou seja, a Eucaristia é de fato o próprio Corpo e Sangue de Jesus. Se a Eucaristia é alimento dos filhos de Deus e neste processo de geração salvífica vamos nos aperfeiçoando no mistério de nossa criação, ou seja, a graça de Deus faz com o que o ser humano aberto e crente alcance o mais profundo de sua humanidade, concordemos com Santo Agostinho ao exortar-nos: “sede o que vedes e recebeis o que sois”.

Em vista disso, para Agostinho, a Eucaristia não está fora da realidade do povo, mas está totalmente relacionada com aquele que a recebe. “Se a Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia, como antes recordei, consequentemente há entre ambas uma conexão estreitíssima, podendo nós aplicar ao mistério eucarístico os atributos que dizemos da Igreja quando professamos, no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, que é una, santa, católica e apostólica. Também a Eucaristia é una e católica; e é santa, antes, é o Santíssimo Sacramento”. (Ecclesia de Eucharistia 26).

Na Eucaristia também reconhecemos a encarnação do Verbo (De corporis et sanguinis Christi veritate in Eucharistia). A Palavra que se fez carne e habitou entre nós, nos deixou sua própria carne, todo o seu corpo como alimento para a vida eterna. Da mesma forma que nossa fé está fundamentada em uma pessoa, Jesus Cristo, também na santa missa comungamos a própria pessoa de Jesus Cristo. Portanto, “na Eucaristia proclama-se a verdade da Palavra de Deus que se revelou em Jesus, Verbo, feito carne, que traz em si a realização última da história humana”. (Sínodo dos Bispos “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, 2005, n. 31).

Ao instituir a Eucaristia, Jesus Cristo quis permanecer com o ser humano, entregando-se a ele por inteiro, para que todo aquele que n’Ele crer tenha a vida eterna. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre” (Jo 6,51). A Eucaristia é alimento salvífico-escatológico. Somos uma Igreja Eucarística que caminha rumo ao seu encontro definitivo (cf. Jo 3,15). Um mesmo corpo formado por diversos ministérios, que crê em um mesmo projeto de amor, não está estagnado, mas cumprindo o mandato missionário de Jesus (cf. Mt 28,19).

 

Padre Rarden Pedrosa,scj é pós-graduado em Ontologia, Psicologia Educacional e Gestão Educacional; bacharel em Filosofia, Teologia e Teologia eclesiástica. Atualmente é Vigário Paroquial no Santuário São Judas Tadeu, São Paulo-SP; professor de alemão na KNN Idiomas, membro e conselheiro fiscal da Associação Dehoniana Brasil Meridional; editor adjunto da Revista Território Acadêmico da Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP

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