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Rito de apresentação dos dons do pão e do vinho e os frutos de nosso trabalho

Saudações queridos irmãos e irmãs, devotos e devotas de São Judas Tadeu. Continuamos nossa caminhada, no aprofundamento da Santa Missa e seus ritos, fonte de todos os Sacramentos da Igreja. É importante, se é o primeiro artigo da série que estás lendo, retomar os números anteriores da Revista São Judas, desde o mês de Janeiro de 2021, para que você tenha uma visão completa e compreenda melhor o artigo deste mês, que aprofunda sobre o precioso rito da Apresentação das Oferendas.

O QUE É O RITO DA APRESENTAÇÃO DOS DONS

É o rito que abre o segundo grande ritual da Santa Missa que conhecemos por Liturgia Eucarística.

No início do Cristianismo, segundo os historiadores da Santa Missa, este rito dá origem a três ritos da Missa, que celebramos nos dias atuais. Recordemos que no primeiro século da Igreja, os cristãos eram também judeus. E mesmo sendo cristãos, não deixaram de praticar sua religião. O Cristianismo era, no começo, um movimento de judeus que seguiam Jesus e/ou os seguidores de Jesus, os Apóstolos e tantos outros discípulos.

Antes de celebrar o “ágape”, a primeira forma da Missa, que se constituía da ceia memorial de Jesus, que era uma refeição cheia de espírito fraterno, de encontro, de partilha, de vida e reconciliação. Refeição essa que relembrava solenemente as palavras de Jesus e seus gestos, e ali acontecia a Eucaristia. Portanto, antes desse momento, os cristãos-judeus ainda iam à Sinagoga, liam e escutavam a leitura da Toráh (cinco primeiros livros da nossa Bíblia), os profetas, cantavam os salmos e ouviam os mestres da lei e sacerdotes. Em seguida, os que eram cristãos, traziam nas suas sacolas o pão e vinho, e iam num bonito e discreto cortejo para a casa de um dos irmãos. Normalmente eram casas grandes, doadas pelas mulheres viúvas da comunidade, e passaram a se chamar “Domus Eclesiae” – A Casa da Comunidade.

Assim sendo, nesse trajeto, entre o culto da Sinagoga (como a Igreja dos Judeus – similiar à comunidade nos dias de hoje) e o belo encontro do “ágape”, os cristãos iam em procissão, cantando cânticos penitenciais, de louvor, seguiam com alegria e profunda convicção de que tudo o que celebravam na Sinagoga ganhava novo sentido no momento da Eucaristia. Esse caminho entre Sinagoga e a “Casa da Comunidade” deu origem aos três ritos da nossa Missa: Procissão de Entrada, Procissão das Oferendas, Procissão da Comunhão. Quando realizamos esses três ritos, rememoramos, relembramos, celebramos, como um único acontecimento, esse gesto dos nosso primeiros pais na fé.

Levavam pão, vinho e os bens que conseguiam conquistar na semana, com o suor da luta e do trabalho. Alguns não tinham o que levar, alguns eram muitos pobres. Junto com o pão e o vinho, os diáconos da comunidade recebiam e apresentavam ao presbítero (padre), o dirigente da comunidade, todos os alimentos que eram recolhidos, oferecidos junto à Eucaristia e depois distribuídos a todos os irmãos, conforme suas necessidades. Enquanto chegavam o pão e vinho, os demais bens oferecidos para a comunidade (ofertas) eram preparados a sala, a mesa, os lugares, cantavam vários salmos, entre eles o mais cantado, era o Salmo 115:

“Que poderei retribuir ao Senhor Deus * por tudo aquilo que ele fez em meu favor? Elevo o cálice da minha salvação, * invocando o nome santo do Senhor. Vou cumprir minhas promessas ao Senhor na presença de seu povo reunido”. (Sl 115, 12-14)

Depois de toda essa preparação, esse bonito encontro onde todos traziam a sua vida, os pobres traziam suas necessidades, os mais ricos partilhavam seus melhores dons, os de média condição traziam também alimentos, bens, que eram postos em comum, e junto com a Eucaristia, ao final do encontro do “ágape” eram distribuídos.

Assim nasceu o Rito da Apresentação das Oferendas, também chamado popularmente de Ofertório, ou Preparação das Ofertas, ou conforme o Missal (livro da santa missa) prescreve: “preparação dos dons”.

O SENTIDO LITÚRGICO-ESPIRITUAL DESSE RITO

O sentido litúrgico-espiritual desse rito é o princípio da Comunhão: Deus se tornou humano, participou da condição humana, para nos santificar, nos transformando à sua imagem e semelhança. Quem realiza essa transformação, do homem, da mulher, velhos para novos é o Senhor Jesus Cristo, pelo seu Espírito, através da Eucaristia e os Sacramentos que dela derivam.

Na Apresentação dos Dons, apresentamos junto com as “oblatas” (pão e vinho), os dons que Jesus escolheu para realizar perpetuamente sua Páscoa entre nós. Apresentamos também nossos dons, o trabalho da semana, as lutas, as dores, o suor do cansaço, enfim, trazemos nossa humanidade por completo, para que, junto com o pão e o vinho, sejamos, Nele com Ele e Por Ele, eucaristizados: transformados por Jesus, em homens e mulheres, segundo sua imagem e semelhança.

Assim como Jesus entregou o seu Corpo e Sangue ao Pai, ou seja, toda a sua  humanidade como um sacrifício perfeito, único e agradável a Deus, ele nos acolhe plenamente, e, com nosso sacrifício nos unimos a este Corpo e Sangue. É nossa participação no pão e vinho, transformados em Corpo e Sangue de Jesus, vivo e ressuscitado, se unirá a nós. E seremos um com ele.

Na arte dos primeiros séculos, o pelicano (ave de origem mediterrânea) era talhado ou pintado nos altares e era a figura simbólica deste rito que já nos adianta todo o precioso sentido da Eucaristia como Páscoa, transformação, transubstanciação. O pelicano é a ave que, sabendo dos perigos de sair para buscar alimento, e deixar os filhos a mercê de predadores no ninho, prefere ficar e se auto mutilar, arrancando pedacinhos do seu corpo para dar aos filhotes, até que sinta que em algum momento eles não correm mais perigo. Era a forte imagem do rito da apresentação dos dons: a partilha de Cristo, a sua entrega, realiza em nós um desprendimento da nossa vida, dos nossos apegos, pela partilha dos nossos dons, bens, frutos, a fim de que todos tenham a vida em abundância, finalidade principal da Eucaristia, alimento completo a nós entregue pelo Senhor.

COMO SE CONSTITUI ESTE RITO

Vejamos como é apresentado esse rito, pela instrução geral do missal romano:

Ao iniciar a liturgia eucarística, levam-se para o altar os dons, que se vão converter no Corpo e Sangue de Cristo. Em primeiro lugar prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística; nele se dispõem o corporal, o purificador (ou sanguinho), o Missal e o cálice, salvo se este for preparado na credência. Em seguida são trazidas as oferendas. É de louvar que o pão e o vinho sejam apresentados pelos fiéis. Recebidos pelo sacerdote ou pelo diácono em lugar conveniente, são depois levados para o altar. Embora, hoje em dia, os fiéis já não tragam do seu próprio pão e vinho, como se fazia noutros tempos, no entanto o rito desta apresentação conserva ainda valor e significado espiritual. Além do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro e outros dons, destinados aos pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja. Estes dons serão dispostos em lugar conveniente, fora da mesa eucarística.

A procissão em que se levam os dons é acompanhada do cântico do ofertório, que se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido depostos sobre o altar. As normas para a execução deste cântico são idênticas às que foram dadas para o cântico de entrada. O rito do ofertório pode ser sempre acompanhado de canto. O pão e o vinho são depostos sobre o altar pelo sacerdote, acompanhados das fórmulas prescritas. O sacerdote pode incensar os dons colocados sobre o altar, depois a cruz e o próprio altar. Deste modo, se pretende significar que a oblação e oração da Igreja se elevam, como a fumaça de incenso, à presença de Deus. Depois o sacerdote, por causa do sagrado ministério, e o povo, em razão da dignidade batismal, podem ser incensados pelo diácono ou por outro ministro. A seguir, o sacerdote lava as mãos, ao lado do altar: com este rito se exprime o desejo de uma purificação interior.

EXERCÍCIO PARA CELEBRAR BEM ESTE RITO

  1. Converse com sua comunidade sobre este artigo. Apresente-o a eles, proponha um momento de aprofundamento juntos: catequese, grupos, movimentos, comunidades…
  2. Reúna com sua comunidade, grupo de reflexão, pastoral ou movimento, para um momento de oração, e antes faça a seguinte proposta: que todos tragam algum bem, uma peça de roupa, um calçado, uma comida de preferencia, um bem que dispensou algum trabalho, um pequeno sacrifício.
  3. Combine o local do encontro, e que seja muito acolhedor, fraterno e muito familiar, nada de improviso, pense num encontro de pessoas que se amam. Prepare bem esse ambiente e uma grande mesa, onde todos vão colocar seus dons oferecidos.
  4. Siga essa proposta de roteiro oracional ou alguma outra que se encaixe na dinâmica.

RECORDANDO O RITO DA APRESENTAÇÃO DOS DONS

  1. A) INÍCIO:

– Refrão Orante (enquanto chegam os convivas, canta-se bem suave, em tom acolhedor): “A ti meu Deus elevo meu coração…”

– A seguir, alguém que presidirá o momento, pode iniciar com o Sinal da Cruz e uma acolhida. Após a acolhida, pode-se ler o sentido deste momento, retomando o artigo acima, ou outro texto que trate sobre o rito da apresentação dos dons.

 

  1. B) ORAÇÃO SÁLMICA:

– Convidar os participantes a rezarem, de modo calmo, tranquilo, meditativo, o Salmo 115 que segue:

– Pode-se dividir as estrofes entre lados A e B, homens e mulheres, jovens, crianças e adultos…

– Após a oração do Salmo, pode-se deixar uns minutos em silêncio para a partilha dos sentimentos e orações que ele inspira.

10 Guardei a minha fé, mesmo dizendo: * ‘É demais o sofrimento em minha vida!’
11 Confiei, quando dizia na aflição: *‘Todo homem é mentiroso! Todo homem!’

12 Que poderei retribuir ao Senhor Deus * por tudo aquilo que ele fez em meu favor?
13 Elevo o cálice da minha salvação, * invocando o nome santo do Senhor.
14 Vou cumprir minhas promessas ao Senhor * na presença de seu povo reunido.

15 É sentida por demais pelo Senhor * a morte de seus santos, seus amigos.
=16 Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, † vosso servo que nasceu de vossa serva; *
mas me quebrastes os grilhões da escravidão!

17 Por isso oferto um sacrifício de louvor, * invocando o nome santo do Senhor.
18 Vou cumprir minhas promessas ao Senhor * na presença de seu povo reunido;

19 nos átrios da casa do Senhor, * em teu meio, ó cidade de Sião!

 

  1. C) EVANGELHO:

– Após a meditação do Salmo, alguém pode proclamar, de modo belo e solene, o Santo Evangelho proposto: Lucas 22, versículos de 7-29.

– Depois da proclamação do Evangelho, faz-se um momento de meditação e novamente de partilha, seguindo, e, se for conveniente, as seguintes questões para partilha:

+ Quando vamos acolher uma pessoa em nossa casa, parentes, amigos, alguém especial, como nos sentimos? Que sentimentos brotam em nossos corações?

+ Como podemos celebrar melhor, e mais intensamente, o rito da apresentação dos dons?

+ O que de novo aprendemos e conseguimos compreender melhor sobre este rito ?

  1. D) CONCLUSÃO: Após o momento de meditação, quem preside convida a cada um dos participantes a falar sobre a oferta que trouxe para a partilha e se quer oferecer a alguém do grupo em especial. Em seguida, conclui-se com o “Pai-nosso” e a partilha dos bens e dos alimentos.

 

Claudemir Marcel de Faria, Assistente para o Departamento de Comunicação e Marketing, Pastoral Litúrgica – Comissão de Canto e Música Litúrgica do Santuário. 

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