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Livrai-nos do mal!

Image by jcomp on Freepik

Caros devotos e devotas de São Judas Tadeu, a Oração do Pai Nosso que estamos meditando ao longo deste ano, nos coloca diante de nosso Deus de uma forma tão íntima – como Jesus também fazia – em que somos levados como filhos ao seu encontro. A Oração dominical (cf. CIC 2761) com que Jesus nos presenteou, é um meio espiritual para buscarmos o sossego e o alívio no colo do Pai. E acrescenta para nos encher de esperança e alimentar a fé: “O que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará” (Jo 16, 23).

O texto da edição anterior desta revista, que teve como tema: “Não nos deixeis cair em tentação”, nos guia para o problema do “mal”. A questão nos provoca sobre uma angústia que vem à tona: por que Deus não livra o mundo do mal, que constantemente atinge os seus filhos?

Caros leitores, a existência humana está constantemente em uma tensão, que parece interminável, pois o caminho para Deus requer superar os obstáculos que o mal impõe e contamos sempre com a providência divina nesse sentido. Porém, já ouvimos ou lemos em algum lugar, a questão sobre se Deus é impotente diante do mal para exterminá-lo, ou o porquê Ele não age decisivamente contra a força maligna. Isso, tendo como pano de fundo o dilema de Epicuro, filósofo grego, que viveu entre 341 e 370 a.c. Dizia Epicuro em linhas gerais: “ou Deus pode e não quer evitar o mal, e então não é bom; ou não pode e quer, e então não é onipotente”. Por ora, não entramos nessa discussão e assumimos o pensamento de que Deus não nos abandona jamais e a ação do mal é uma “consequência intrínseca da criação, que, limitada, não é capaz de perfeição plena nem no físico nem no moral” (T. QUEIRUGA, 2004).

Nesse sentido, a criatura humana sofre as consequências do mal por ser criatura imperfeita e limitada. O mundo, por sua vez, não é mal por ser imperfeito. Tudo o que Deus criou é muito bom, ensina a Bíblia (cf. Gn 1, 31). Porém, como podemos inevitavelmente conviver com a presença do mal, sem nos deixar sucumbir a ele?

O Catecismo da Igreja Católica ensina que o mal é Satanás, o Maligno, aquele que se opõe a Deus para destruir o ser humano e impedir o Plano de Salvação, realizada por Cristo (cf. CIC 2851). Jesus em sua oração insiste em pedir ao Pai para que guarde os discípulos do Maligno (cf. Jo 17, 15), dando-nos a visão de que é imprescindível o socorro de Deus, enquanto caminhamos neste mundo, contra as forças do antirreino que se insurgem contra toda criatura.

No contexto da petição: “Mas livrai-nos do mal”, nos encontramos numa situação de fragilidade, pois o que pedimos ao Pai revela que somos dependentes e carentes Dele. Por vezes parece que a nossa força para combater as insídias do Maligno é fraca. O diabo, diz Pedro, é o adversário que nos “rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar” (1Pd 5, 8).

Nessa lógica, o relato da Criação é curioso. Diante da liberdade o ser humano, instigado pelo Malicioso, personificado na astuta serpente (Gn 3, 1-13), que ilude e conspira, cai em desgraça por sucumbir às artimanhas do mal, ferindo o coração do Pai. O mal, portanto, é a realidade a ser combatida por nós, com o recurso da Graça, pois, sem a presença de Deus em nossas vidas nos tornamos impotentes sob a ferida que o mal causa. Por isso, é preciso levar a sério a questão do mal e a atuação de Deus no mundo.

Como não é possível o mundo sem o mal até a Parusia de Jesus – segunda vinda de Cristo (At 1, 11) – recorremos ao Senhor que tem o poder de nos proteger e nos guardar “contra os ardis do Diabo”. “Sabemos que somos de Deus” e, “quem se entrega a Deus não teme o Demônio” (cf. CIC 2852).

A fórmula das petições na Oração do Pai Nosso é como um conjunto de desejos que veem do coração humano, que Jesus, em resposta aos discípulos, ensinou à Igreja e que nos ajuda decisivamente a perseverar no “caminho de fé”. Pedir ao Pai que nos livre do mal, a última petição, é um pedido de libertação frente ao maligno e, conduzidos pelo Espírito Santo, é também um pedido de ajuda para direcionar o nosso olhar para o horizonte escatológico da eternidade e alcançar a vitória da salvação com mais otimismo e confiança na providência e na misericórdia do Pai.

Sami N. Abraão
Agente de pastoral do Santuário São Judas Tadeu

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