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A pandemia pós-pandemia

É muito comum o aparecimento de doenças emocionais em momentos de grandes tragédias, sejam elas globais ou pessoais. O impacto de um grande evento como a pandemia foi desastroso no que tange ao aumento de problemas como vícios, ansiedade, sociofobia e insônia. Essas doenças emocionais provocaram uma pandemia no pós-pandemia.

Pesquisas brasileiras como a da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) apontam um aumento de consumo de cigarro por quase 35% da população. Dados do Ministério da Saúde mais alarmantes revelam que os atendimentos em hospitais por uso de drogas ilícitas aumentaram 50% desde março de 2020. Algumas pesquisas nacionais e internacionais indicam que o Brasil é o primeiro no ranking da ansiedade, já sendo considerada uma epidemia. E o vício em celular é uma doença reconhecida pela ciência, ganhando até um nome: “nomofobia”.

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Esses dados apresentam a realidade crítica em que vivemos no pós-pandemia, pois esses vícios e doenças emocionais causam um desequilíbrio social que afeta não só a vida da pessoa que sofre com esses problemas, mas também daquelas que participam do seu círculo social.

As doenças emocionais das quais falamos são gestadas por vícios que vamos agregando à nossa vida. Vícios como álcool, drogas, cigarro, celular, internet, jogos, remédios, falar mal dos outros, prevaricações, pornografia etc. é que ocasionam uma variedade de doenças emocionais. Nesse caso a pandemia contribuiu muito, pois proporcionou o aumento de vários vícios. Falaremos a seguir de algumas doenças emocionais mais comuns:

Ansiedade

A ansiedade é um medo ocasionado por distúrbios do comportamento. É verdade que existe uma ansiedade orgânica, ou seja, ocasionada por problemas biológicos. Contudo, as pessoas sofrem de ansiedade em geral ocasionada por estresse que pode ser consequência de trabalho, escola, relacionamento pessoal; trauma emocional; preocupações financeiras; condição médica crônica ou grave; grande evento ou performance; efeito colateral de certos medicamentos; consumo de álcool, drogas como cocaína; falta de oxigênio etc. Várias são as condições que podem gerar ansiedade em uma pessoa, por isso, vale muito buscar a sua causa e mudar o estilo de vida.

Sociofobia

A Sociofobia é caracterizada por um medo de situações sociais. A pessoa adquire certo pânico de se relacionar e as causas são as mais variadas: crescer em um ambiente fóbico; evento social traumático/humilhante; adolescentes podem desenvolver essa condição como resultado de vínculos inseguros com suas mães quando crianças; crescer com pais superprotetores ou hipercríticos; algumas culturas são muito obscuras e podem fazer com que alguém desenvolva esta condição; uso de substâncias, especialmente álcool ou benzodiazepínicos. Uma pandemia cria ambiente propício para que essas causas aconteçam, gerando na pessoa uma insegurança irracional incapaz de autocontrole.

Insônia

A insônia foi uma das doenças que mais cresceu em meio à pandemia, pois, para se ter uma boa noite de sono, é preciso estar com a ansiedade sob controle. Como estamos num ambiente de muitas possibilidades e mudanças, a ansiedade tem tomado conta e aparece a insônia. Além do que, atualmente se faz muitas atividades estimulantes antes de dormir, como é o caso do uso do celular. Acontece que o cérebro, ao receber estímulos, desperta, principalmente com a luz. A melhor maneira de se livrar da insônia é mudar o comportamento antes de dormir, realizando atividades que não sejam estimulantes, como criar rituais de cuidado pessoal, diminuindo a luz que incide sobre os olhos quanto mais anoitece; fazer leituras; evitar tomar estimulantes; não deixar para jantar próximo da hora de dormir; fazer uso de chás-verdes e amarelos que são calmantes, etc..

Vício em redes sociais

Está se tornando uma nova doença, ainda em processo de estudos, mas que já traz grandes sofrimentos. Esse vício se caracteriza por obsessão em estar conectado; uso em momentos inoportunos, dirigindo, por exemplo; alterações de humor durante o acesso; comportamento agressivo e sentimento de raiva, quando não consegue se conectar; perder horas de sono e de trabalho para se conectar; perder os vínculos reais e ter muitos relacionamentos virtuais.

Essas condições sugerem que a pessoa está absorvida por essa nova doença, que traz consigo prejuízos emocionais enormes. O grande problema é que esse vício acarreta a falta de concentração e um vazio interior, com perda de sentido da vida. Para se recuperar deste vício, precisamos novamente falar da força de vontade de mudar os próprios comportamentos, por isso o melhor é: passar mais tempo ao ar livre, principalmente com práticas esportivas; tomar sol; passar mais tempo com os amigos; desligar as notificações do celular; procurar programas que favoreçam a ocupação e a concentração, como jogos e leituras; fazer reflexões de como a vida pode ser sem o uso das redes sociais etc..

Lidar com esses vícios não é nada fácil, pois requer paciência e força de vontade. O problema é que, quando a vontade está enfraquecida, é necessário incluir na vida hábitos não tão agradáveis que fortaleçam a nossa vontade pessoal, pois vontade só se fortalece com pequenos treinos diários. De fato, “aquele que move montanhas começa por remover pedras”.

Ter hábitos como: focar nos objetivos que precisam ser desenvolvidos no dia, priorizar o que é essencial e estabelecer um horário para o supérfluo; superar pequenos desafios do dia com otimismo, sem reclamar; fazer mudanças sutis como perceber um cuidado maior consigo mesmo, por exemplo; ter rituais de cuidado pessoal como leituras, meditação, oração; gastar mais tempo escovando os dentes, cuidando da pele ou de outras partes do corpo; praticar atividade física etc., pode nos tornar resistentes ao vício e permitir sair do estresse.

 

Pe. Rafael Vieira, scj – Pertence à Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, formado em Filosofia e Teologia. É especialista em Logoterapia e mestrando em Desenvolvimento Humano e Espiritualidade na Universidade Católica de Ávila na Espanha. Atualmente é pároco da Paróquia São Judas Tadeu, em Terra Boa/PR, membro do Instituto de formação humano Findway, fundador do grupo Ilumine UMC Projeto de Atendimento Humano e Espiritual e professor convidado da Universidade ESIC de Madrid.

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