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Professamos um só Batismo (Parte II)

Os fiéis renascidos no batismo, são fortalecidos pelo sacramento da confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na eucaristia

Na ressurreição Jesus Cristo batizou a sua própria Igreja, no Espírito Santo, o mesmo Espírito que nos foi dado em Pentecostes para a remissão dos pecados (cf. At 2,38), e pelo mesmo Espírito Deus criou tudo (cf. At 2,28; Jo 20,22; Rm 8,2.10).

Na páscoa, toda a comunidade dos apóstolos se tornou cristã, ou seja, recebeu a nova vida no Ressuscitado. À vista disso, podemos dizer que na ressurreição a Igreja recebeu a missão de batizar todo aquele que crê. “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5).

É impossível receber o batismo sem a fé em Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Desse modo, o sacramento do batismo é um acontecimento que a partir da fé se insere e continua a história salvífica, as ações salvadoras de Deus na história. No batismo acontece a salvação não somente para a própria pessoa que o recebe, mas também para toda a Igreja, na visibilidade histórica do sinal sacramental da água. Quando alguém batiza é o próprio Cristo quem batiza. O sacramento não é o recipiente que contém o remédio para o homem pecador; é ele mesmo o próprio remédio.

Santo Tomás de Aquino qualifica o sacramento como sinal de uma realidade sagrada enquanto santifica os homens. Trata-se, pois, de um rito-sinal que envia para outra realidade (santificação). […]. Todos os sacramentos, por sua vez, estão fundados no evento pascal de Cristo. Santo Tomás desenvolveu a teologia do caráter e por meio dela fundou uma concepção de sacramento profundamente atenta à dimensão cultual.

Para ele os sacramentos são prolongamentos da humanidade de Cristo, canais da sua graça, eles são, ao mesmo tempo, atos do culto cristão, possuindo uma dupla dimensão, isto é, levar aos homens os dons de Deus e reportar a Deus o culto da humanidade reconciliada. Por isso, a natureza específica do caráter é a participação no sacerdócio de Cristo (cf. MÜLLER, 2015, pp. 446-447).

A graça que vem do sacramento não depende de nossas obras humanas, por isso o ser humano não pode colocar impedimento à graça de Deus. O ser humano acolhe de modo livre àquilo que o sacramento transmite, isto é, a graça invisível de Deus feita visível no ser humano. O sacramento também acontece na vida do ser humano e para a vida dele. Não há evento sacramental sem vida.

Todo sacramento manifesta na vida do ser humano, da mesma forma que transforma a vida humana. Como afirma Boff, “o sacramento é um jogo entre o ser humano, o mundo e Deus” (Minima Sacramentalia, 2002, p. 14). O sacramento alimenta a fé do ser humano, dá força e vigor na relação entre Deus e o homem. Assim sendo, o homem na liberdade – dom gratuito de Deus – responde à realidade sacramental por meio do compromisso de fé. “Não pode haver fé sem sacramento, nem sacramento sem fé” (BORÓBIO, Celebrar para viver, 2009, p. 127).

A dimensão sacramental possui uma estrutura de aliança entre Deus e o homem. Portanto, a verdadeira e mais profunda estrutura do sacramento é a interna, à medida que supõe um encontro interpessoal, que não se reduz somente a uma interioridade ou intencionalidade, mas que é manifestada nas diferentes formas, isto é, pela palavra sacramental ou fórmula do sacramento, pela presença da comunidade e pela presidência do ministro, pela participação de acolhida e pela confissão de fé do sujeito (cf. BORÓBIO, 2009, p. 127).

Em Cristo se dão todos os sentidos dos sacramentos, porque ele é o centro dos sacramentos. “[…] Cristo, e ninguém mais do que ele, determina o sentido de certos sinais, não necessariamente concretizando os detalhes de sua celebração, mas dando-lhes um novo significado, plenificando-os de um conteúdo de vida para além das barreiras humanas” (BORÓBIO, 2009, p. 121).

Os sacramentos se tornam uma atualização da mesma salvação do Cristo dada a nós uma vez por todas. “A graça dos sacramentos é o próprio dom da Páscoa que nos é oferecida como dom transformador que, ao nos submergir em seu dinamismo, nos assimila a Cristo e nos compromete a estender a todos os homens a salvação que Cristo nos dá” (BORÓBIO, 2009, p. 121).

O Espírito Santo age na humanidade por meio dos sacramentos e é ele quem continua realizando a aproximação entre Deus e os homens. O Espírito é o dom dado por Cristo para a Igreja e que continua se perpetuando na vida da humanidade. O homem precisa acolher com fé e de forma livre a ação de Deus em sua vida por meio dos sacramentos fundidos pelo Espírito Santo, isto é, ex opere operato. Por isso, “a graça da vida tende a se expressar no sacramento. A graça do sacramento tende a se expressar na vida” (BORÓBIO, 2009, p. 123).

Pelo batismo ganhamos gratuitamente uma vida nova e uma filiação divina. Não é mudança formal, mas ontológica e real que nos faz filhos no Filho e nos dá a identidade cristã. Neste sentido, os sacramentos da iniciação cristã – batismo, eucaristia e confirmação – se tornam o fundamento de toda a vida cristã, pois “a participação na natureza divina, que os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos no batismo, são fortalecidos pelo sacramento da confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na eucaristia” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1212).

Padre Rarden Pedrosa, SCJ é pós-graduado em Ontologia, Psicologia Educacional e Gestão Educacional; bacharel em Filosofia, Teologia e Teologia eclesiástica. Atualmente é Vigário Paroquial no Santuário São Judas Tadeu, São Paulo-SP; professor de alemão na KNN Idiomas, membro e conselheiro fiscal da Associação Dehoniana Brasil Meridional; editor adjunto da Revista Território Acadêmico da Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP.

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