Abordando mais um aspecto da espiritualidade da família cristã, neste mês nossa catequese aponta para A FAMÍLIA CRISTÃ QUE SERVE AOS POBRES. A família, sendo uma célula viva da Igreja, fará “em miniatura”, no raio de sua ação, o que a Igreja faz na área da educação e assistência social. O Papa Francisco diz: “A Igreja é samaritana, vê e sente compaixão, socorre a quem precisa e cuida dele” (CF 2020).

A história do cristianismo comprova e atesta a ação educadora e assistencial da Igreja. Basta lembrar as Santas Casas de Misericórdia/Hospitais, creches, orfanatos, asilos, colégios, centros de cultura fundados e mantidos pelas Ordens e Congregações religiosas, aplicando seus carismas. Hoje essas obras educacionais, assistenciais e sociais continuam, embora em número e escala menores. Há obras beneficentes altamente meritórias que se dedicam à criança abandonada, aos moradores de rua, aos dependentes químicos e a outros, restaurando neles a imagem de Deus, totalmente desfigurada.

A comunidade, a família, os cristãos que se prezam, devem assumir sentimentos e atitudes de acolhimento e solidariedade, socorrendo os “espoliados” à beira do caminho da vida.  Oportunidades para um serviço fraterno não faltarão para quem quer servir e ajudar crianças abandonadas, idosos desassistidos, jovens envolvidos e escravos das drogas, famílias desestruturadas, desempregados, famintos, doentes, marginalizados, excluídos… Há muitos, que não têm vez nem voz na sociedade, e não participam do banquete da vida, que esperam pelo nosso apoio de irmãos na fé. Cada um fazendo a sua parte e o possível, muita coisa será bem melhor para todos. Tenhamos esta certeza e convicção. Abre-se para todos um leque de necessidades, permitindo a cada um, livremente, escolher a área, onde queira atuar e servir.

Jesus, na sua época, afirmou aos discípulos: “Pobres sempre tereis convosco” (Jo 12,8).  A Igreja que prolonga a missão de Cristo, no tempo e no espaço, já fez sua opção preferencial pelos pobres, na América Latina, em 1968, na Conferência do Episcopado, em Medellín (Colômbia), com a presença do Papa Paulo VI.

Posteriormente, em l979, em Puebla (México), com a presença do Papa João Paulo II, o Episcopado Latino Americano, avaliando os problemas sociais, políticos e econômicos, reconhece que não é mestre nessa matéria, mas, interpretando o sofrimento do povo, manteve a opção assumida, adjetivando-a como “evangélica” opção preferencial pelos pobres. Entenda-se: não exclusiva, nem excludente, pois, cabe à Igreja evangelizar, santificar e salvar a todos, indistintamente: ricos e pobres. Partilhando sobras e supérfluos com generosidade, socorrendo   necessitados, estaremos investindo em méritos para o céu. “Deus ama e abençoa a quem dá com alegria aos pobres” (2Cor 9,7).  Dom Helder Câmara exclamava: “Ai dos pobres, se não fossem os outros pobres.” E ainda: “Ninguém é tão pobre que não possa ofertar algo, e ninguém é tão rico que não precise algo.”

Ao proclamar as bem-aventuranças, máximas totalmente diferentes, das que a sociedade e o mundo defendem, Jesus afirma: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”(Mt 5,3). O Mestre divino propõe vida digna de filho de Deus e de pessoa humana, sem esquecer de lutar por melhor qualidade de vida para todos, como recomenda a CF/2020. Hoje, tenho e posso ajudar, amanhã talvez me falte, e alguém me socorre. Quando partilhamos, o pouco que temos se torna muito, dá para todos e ainda sobra (Mt l4,l9-2l).

Jesus se identifica com os pobres, quando afirma: “Estive com fome e me destes de comer; com sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; estava nu e me vestistes; estava doente e preso e me fostes ver; e sentencia: “Vinde benditos de meu Pai, possuí  o reino que vos está preparado, desde a criação  do mundo, pois tudo quanto fizestes aos irmãos, é a Mim que o fizestes”(Mt 25,3lss).  É um convite para amar e servir Cristo no pobre, partilhando a vida, os bens e dons com ele. Esta generosidade poderá ser nossa “senha” de entrada no céu.

Concluindo, todos os membros da família terão oportunidades para o serviço voluntário nas pastorais sociais: da saúde, da criança, do idoso, do morador de rua, do dependente químico, em creches, obras assistenciais e em tantas outras iniciativas comunitárias que aparecem, onde se pode servir. Bastaria lembrar as belíssimas criatividades, que surgiram, por toda parte, para ajudar e servir, cada um com seu talento, por ocasião da pandemia da Covid-19. Que a sabedoria do alto nos ilumine e inspire para sermos o melhor e fazermos o melhor possível para todos: “Quem não vive para servir, não serve para viver!”