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Domingo de Ramos (Homilia)

HOMILIA SOBRE O DOMINGO DE RAMOS 05/04/2020 – ANO A

1 – NOVAS PRÁTICAS QUARESMAIS

Com a Liturgia Eucarística deste domingo, tem início a Semana Santa/2020. Neste ano, vivemos de modo excepcional o tempo da Quaresma. E agora, vamos viver, igualmente, uma excepcional Semana Santa.

Tradicionalmente, em outros tempos e lugares não muito distantes dos nossos, o período quaresmal foi vivido, por não poucos fiéis, com sensível recolhimento e moderação dos sentidos. Pelo esforço em olhar mais para si mesmos, seu íntimo, e pelo cuidado em ouvir mais a voz do Senhor, que conosco se comunica de diversos modos.

Naquele tempo, não se faziam festas, nem bailes, e os salões entravam em recesso. Os noivos não se casavam na Quaresma e as outras comemorações eram adiadas. O rádio era ligado apenas para se ouvir notícias e acompanhar alguma reza. O comércio fechava na hora das procissões. O povo ia para a capela do lugar ou para a matriz da cidade, a fim de participar da Via-Sacra, das procissões e para confessar-se. Na Semana Santa então, as mulheres não se enfeitavam, os homens não podiam cortar barba e cabelos, e os animais tinham tempo para descanso, o leite e ovos daqueles dias eram doados.

Não faz sentido apregoar que voltem essas práticas. Elas pertencem a um tempo que passou e não precisa voltar. Contudo, a piedade, a devoção e a compaixão que motivavam aquelas práticas cabem em nosso tempo e podem motivar novas práticas quaresmais. Uma atitude mais reverente em relação a Deus, falta ao nosso tempo. E isso sempre faz bem para as pessoas, individualmente, e para as sociedades.

2 – TIRAR LIÇÕES DAS DIFICULDADES

Há pouco mais de um mês, os noticiários passaram a falar de coisas um pouco esquisitas. Falaram que surgira um inimigo invisível e poderoso que estava matando muita gente. Por ser invisível, ele ia pra onde queria. Foi de um lado para o outro. Ultrapassou as distâncias e o mundo entrou em fase de apavoramento. Para conter esse inimigo, as autoridades recomendaram muitas medidas, entre elas, “isolamento social”. Isto é, fica proibido sair de casa. Ninguém pode ir ao trabalho, à escola, nem à igreja. Só ao mercado e às farmácias, com sérios cuidados. Só se tem licença de ir ao hospital.

A ameaça de contaminação a que estamos sujeitos e o recolhimento forçado a que estamos submetidos, desde a metade da Quaresma, bem poderiam provocar a reflexão e uma conversão mais decidida ao Senhor de todas as coisas. Poderiam despertar a razão humana a ponto de que muitos reconhecessem que:

• A casa não pode ser apenas o lugar para dormir. Casa deve ser lar, isto é, deve ser o ambiente básico e necessário para a convivência, com tudo o que convivência implica: diálogos, interação e trabalhos compartilhados.
• A casa não pode ser apenas o abrigo físico, mas também o abrigo afetivo emocional, lugar de acolhimento interpessoal, das práticas domésticas e das formas de oração.

Foi e é a inexistência de uma casa que seja lar, que fizeram surgir os barzinhos, os esquenta, as baladas, que têm levado as adolescentes para a gravidez precoce, e os adolescentes para o mundo das drogas e prostituição. E daí, para as Instituições que, ironicamente são chamadas de “casa abrigo”, “fundação casa” e semelhantes.

Têm culpa por tudo isso, desde os governantes que não providenciaram espaços suficientes para dignas habitações populares, e em consequência, “permitiram” construções de favelas com um enorme potencial destrutivo.

Têm culpa por tudo isso, as autoridades que deveriam, mas não cuidaram de nossos professores/as e Escolas, permitindo um exército de “educadores/as” carentes de uma sólida formação humana e permitindo que as Escolas se tornassem numa espécie de “zorra total”.
Tem culpa por tudo isso, uma certa imprensa que se arrepia e brada, quando alguém a acusa, mas convém perguntar, se os programas oferecidos às frações mais modestas da sociedade ajudaram a elevar os padrões de comportamento ou à sua degradação.

Tem culpa por esse estado de coisas:

• A ganância e a falta de escrúpulos dos poderosos que poderiam ter evitado uma desumana e catastrófica concentração de renda, forçando o surgimento de uma maioria que sobrevive abaixo da linha da pobreza.
• A imoralidades, em todas as dimensões, de uma parte do legislativo e do judiciário que criou leis e mecanismos que favorecem, promovem e protegem seus parceiros do executivo, e fez prosperarem várias práticas criminosas com suas pesadas consequências, sobre uma imensa massa com pouco ou sem nenhum recurso (caso emblemático, abaixo do nível federal, é o Estado do Rio de Janeiro, com seus últimos quatro governadores condenados, porque assaltaram o Estado com a promiscuidade de juízes, empresários, policiais e afins).
• Só mesmo um vírus letal poderia fazer frente a essa elite de malfeitores.

3 – JESUS PRECISA DE UM JUMENTO

Na antiguidade, quando retornavam vencedores de uma batalha, o rei, seus generais e as tropas de subalternos entravam triunfalmente na cidade. O rei, montado em um vistoso cavalo ou em uma carruagem cheia de adereços puxada por vários animais, era seguido pela população que aplaudia, aclamava e gritava saudações ao rei. Mais atrás, vinham os sobreviventes que foram capturados, presos às correntes e maltrapilhos gemendo e chorando. Eram vendidos como escravos, ou condenados aos trabalhos forçados, ou se tornariam objeto para a diversão da plebe

Jesus de Nazaré, o Ungido de Deus vivo e Rei Universal, montado em um jumento, entra em Jerusalém e, sob os acenos, cânticos e gritos de aclamação é recebido pelo povo. Para tornar um pouco mais majestosa essa entrada, o povo forra com seus mantos o chão por onde deve passar o Senhor. Quem vem ao lado de Jesus? Quem o acompanha? São generais? São vistosos combatentes montados em seus possantes? Não. Ao menos uma parte dos que O acompanham são as pessoas que Ele curou, perdoou, alimentou, ensinou e livrou dos espíritos impuros. É possível que esteja no meio do povo, Lázaro, Marta, Jairo e sua família, enfim.

O Domingo de Ramos contém um gritante contraste. No centro de tudo está o Senhor, nosso rei. Mas ele vem montado num burrinho. É como no início de tudo: na anunciação, há algo de indescritível e sobrenatural. No nascimento, há algo de “insignificante”. Deus é assim.

O Rei do Evangelho da Missa de hoje, diz que “precisa” de um jumentinho, no qual monta e entra na Cidade. O que Ele quer nos ensinar com isso?

Ele ensina que, de fato, importa o amor verdadeiro, para com o Pai e os semelhantes. O amor verdadeiro ao Pai se traduz em reverência, obediência e conformação à vontade desse Pai. E o amor verdadeiro pelos semelhantes, se traduz em atos e obras que, ajudem-nos a salvarem-se.
Jesus poderia ser o rei proprietário de todos os meios de produção, capaz de transformar “pedras” em alimento para todos.

Jesus poderia ser o rei de todos os reinos e dono de todo o ouro e tesouros do mundo.
Jesus poderia ser o rei mais poderoso, conduzido pelos anjos imortais de um para outro lado, como se fosse um dos super-heróis que vemos no cinema (cf. Evangelho do 1º domingo da quaresma).

A lição que Jesus (sempre) nos dá, é difícil de aprender e poucos estão dispostos a tanto. As propostas do Tentador são aprendidas mais rápido.

Os tempos modernos, com suas fabulosas descobertas e invenções, que tantos benefícios nos oferecem, também tratou de eliminar Deus dos horizontes do homem e da história dos povos, e de entretê-los tanto, que as boas práticas quaresmais fossem, pouco a pouco esquecidas. Já se tornou afirmação comum, dizer que os tempos modernos, que inventaram “mil “coisas para facilitar a vida de mulheres e homens, tornaram a vida cada vez mais frenética. As pessoas mais agitadas e sem tempo para si e para os seus entes mais próximos.

Adquirimos a mania de estar, habitualmente, num corre-corre, a fim de nada perder. De tomar posse de uma brilhante carreira profissional, de alcançar honra e poder. Sentimos sempre presente o desejo de dominar pessoas e coisas, com a falsa ideia de que assim ficaremos mais seguros. Nessa dinâmica, quem é “lerdo” fica para trás e corre o risco de ser descartado porque não temos paciência com pessoas assim.

Rezo e peço a Deus Nosso Senhor que, a grande Quaresma “imposta” pela ameaça do CORONAVÍRUS, converta muitos corações. Para o amor verdadeiro: a Deus e ao semelhante.

Padre Eli L. dos Santos, scj

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2 Comentários
  • Nereide Lemos Ferreira de los Santos
    Postado em 18:26h, 06 abril Responder

    Obrigada padre Eli por esse texto de homilia tão repleto de orientação esclarecimento e demonstração de como nós povo de Deus estamos ficando longe por meio de tanta distração do sentido e do caminho apresentado por Cristo Jesus. Que neste tempo de quaresma e de quarentena nosso tempo tenha sido para irmos ao encontro do Cristo ressuscitado.

  • Lucia Helena da Riva
    Postado em 09:36h, 07 abril Responder

    O Padre Eli sempre com suas Homilias Maravilhosas que tocam Profundamente a nossa alma , desejo muito que o Padre Eli em sua infinita bondade continue a frente da Paróquia e que Deus o Ilumine cada vez mais para que ele continue com suas belas e inteligentes palavras de sabedoria divina

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