fbpx

O caminho trinitário na Sagrada Escritura

No mês da Bíblia na Igreja no Brasil, tradição em nossa vida eclesial, apresentamos uma reflexão sobre a Trindade, tema difícil, mas necessário para a fé cristã.

 

A manifestação do Deus-Trindade no Antigo Testamento se dá de forma velada, ou seja, há apenas um conhecimento gradual da Trindade. Nos primeiros livros da Sagrada Escritura o povo eleito percebe um Deus libertador, um Deus como Pai, um Deus como Sabedoria. Posteriormente, eles compreenderam e descobriram o Espírito de Deus. Com toda certeza, o Deus que eles descobriram no Antigo Testamento é o Pai que, na pessoa do Filho, se manifesta de forma completa na encarnação. Deus se dá a conhecer primeiro como libertador (libertação do povo do Egito) e depois como criador (Babilônia, pós-exílio). Quando Deus se revela no Filho, Ele vem para nos libertar e ir pelo mundo anunciar a Boa Nova.

No Antigo Testamento havia uma necessidade de incutir no povo a unicidade de Deus: “Eu sou, aquele que é” (Ex 3,14). A unicidade de Deus não permitia a revelação de pessoas em Deus. Por isso, a ideia de Deus trino se prejudicará no decorrer da construção doutrinal do Antigo Testamento. A preocupação do povo do antigo Israel era afirmar a unicidade de Deus. Contudo, não podemos deixar de observar a tendência a conceber, como se fossem pessoas, certos atributos de Deus. Aparecem três categorias no Antigo Testamento que depois serão lidas no Novo Testamento como Trindade, a saber, Sabedoria, Palavra e Espírito de Deus (cf. Br 3,4-4,4; Pr 8,12-36; Ecl 24,5-32; Sb 7,22-26). A revelação trinitária é um processo, desse modo, podemos afirmar que o Antigo Testamento é uma preparação, uma prefiguração para a compreensão da Trindade atual.

Cristo manifesta a Trindade. Desse modo, podemos encontrar algumas abordagens trinitárias de maneira mais explícita no Novo Testamento, principalmente nos evangelhos sinóticos (cf. Mt 28,18-20; Mt 3,16; Lc 1,30-35; 2Cor 13,13; Gl 4,6; Ef 2,18; Tt 3,4-6; Hb 2,3). É Jesus Cristo quem revela a Santíssima Trindade. Ele é a plenitude da revelação de Deus. Ao longo de sua vida pública Jesus vai desvelando o projeto do Pai, que é um projeto de salvação para toda a humanidade, para todos os filhos de Deus.

Quando o Filho se revela, a Santíssima Trindade também está se revelando plenamente. Em Cristo se compreende tudo o que desabrocha ao seu redor. O Catecismo da Igreja Católica (n. 689) nos afirma: “aquele que o Pai enviou a nossos corações, o Espírito de seu Filho é realmente Deus. Consubstancial ao Pai e ao Filho, ele é inseparável dos dois, tanto na Vida íntima da Trindade como em seu dom de amor pelo mundo. Sem dúvida, é Cristo que aparece, ele, a Imagem visível do Deus invisível; mas é o Espírito Santo que o revela”.

Neste sentido, o ser humano só pode entender o Pai, Filho e Espírito Santo, a partir do momento no qual Deus se manifesta. Somente com referência à encarnação do Filho e a ação do Espírito Santo é que compreendemos a Trindade. Deste modo, conseguimos compreender a Trindade imanente – Deus em si mesmo –, tendo em vista que a finitude nunca poderá captar a infinitude.

A revelação do Deus-Trindade é a manifestação da mais íntima relação do próprio Deus. A Trindade faz parte da essência de Deus. Portanto, a categoria trinitária não é simplesmente uma mera especulação teológica de Deus, mas Deus mesmo se revela na sua unicidade-trindade (De Deo uno et trino). “Existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para o qual caminhamos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e para quem caminhamos” (1Cor 8,6).

Deus se manifesta na sua economia – revelação do Pai na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo – trinitariamente para tornar o ser humano mais humano. A revelação necessita de um entendimento razoável, de uma inteligibilidade. Por isso, na medida que Deus se mostra, o ser humano conhece mais de si mesmo. A revelação divina gera uma antropologia intrínseca. Deus se dá a conhecer para que o ser humano conheça a si mesmo e a Deus. Além disso, a revelação do Deus-Trindade evidencia a perspectiva salvífica, de que somos salvos na Verdade, que é o próprio Cristo (cf. Jo 14,6).

A Trindade deseja relacionar-se com o ser humano. Neste sentido, a pessoa do Filho dentre as três pessoas da Santíssima Trindade se encarnou, assumindo todas as características próprias da vida humana. O amor que interpenetra na Santíssima Trindade desceu para se relacionar com o ser humano. Portanto, não há maior ato de amor de Deus pela sua criatura do que o envio de seu próprio Filho unigênito. “Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que vivamos por Ele” (1Jo 4,9).

 

Padre Rarden Pedrosa,scj – Vigário Paroquial da Paróquia/ Santuário São Judas Tadeu. Pós-graduado em Ontologia, Psicologia Educacional e Gestão Educacional; bacharel em Filosofia, Teologia e Teologia eclesiástica. Atualmente é associado e conselheiro fiscal da Associação Dehoniana Brasil Meridional; membro da equipe editorial da Revista Território Acadêmico da Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP.

Nenhum comentário

Publique um comentário

WhatsApp chat