No dia 28 de junho de 2023 vamos comemorar o aniversário de 145 anos da fundação da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, os dehonianos, que sempre estiveram à frente no cuidado e zelo pastoral do Santuário São Judas Tadeu. Para compreender um pouco mais sobre essa temática, convidamos o Pe. Guilherme César Silva Rocha, scj, para esclarecer algumas dúvidas recorrentes sobre a congregação, seu fundador e a relação com o Sagrado Coração de Jesus. Confira no texto abaixo:
A) O que é uma congregação?
Na história da Igreja, homens e mulheres batizados sentiram um chamado em viver mais radicalmente o seu Batismo. No cristianismo primitivo temos homens como Santo Antão que se retiraram para o deserto vivendo naquilo que chamamos hoje de vida eremítica. A partir dessa vivência mais próxima do Senhor, surgiu o desejo de partilhar essa experiência com outros batizados que possuíam o mesmo desejo.
Daí surgiram os mosteiros: lugar onde homens e mulheres vivem radicalmente seu Batismo por meio dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência. Em meados do século XII e XIII, foram fundadas as Ordens mendicantes, como os franciscanos e os dominicanos, que também buscavam viver a radicalidade batismal, mas agora inseridos no mundo e não apenas numa vida comunitária nos mosteiros.
Dessa forma, os mosteiros e as ordens mendicantes são o princípio daquilo que hoje denominamos congregação. Ou seja, institutos religiosos que possuem um carisma próprio em que homens e mulheres batizados buscam viver os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência. Tais homens e mulheres batizados são atualmente conhecidos na Igreja como religiosos e não fazem parte da hierarquia da Igreja. Naturalmente que as congregações clericais de direito pontifício possuem membros clérigos e que ante o ministério ordenado passam a integrar a hierarquia eclesiástica. Mas a marca das famílias religiosas ou congregações é a maneira de viver o Evangelho por meio de um carisma próprio.
B) Quem são os padres dehonianos?
A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus tem seus membros conhecidos no Brasil e em outros países como dehonianos, ou seja, filhos espirituais de Pe. Dehon. Fundada em 28 de junho de 1878 pelo Venerável Pe. Leão João Dehon, os dehonianos professam os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência e vivem o carisma inspirado por Deus a Pe. Dehon: “União a oblação reparadora de Cristo ao Pai em favor da humanidade” (Regra de Vida SCJ, 6).
Por meio do amor e da reparação e tendo a Eucaristia como centro de seu apostolado, os religiosos irmãos ou padres do Coração de Jesus são chamados por meio do “Hoje de Deus” (Regra de Vida SCJ, 147) a instaurarem nas almas e na sociedade o Reino do Coração de Jesus. No Brasil, os dehonianos se organizam em três províncias: BRE (Brasil Recife), BSP (Brasil São Paulo) e BRM (Brasil Meridional).
C) Quem foi Pe. Dehon?
Leão João Dehon nasceu em 14 de março de 1843, na França. Herdou de sua mãe a devoção ao Coração de Jesus e sentiu o chamado a ser sacerdote desde cedo, mas não encontrou em seu pai num primeiro momento a acolhida de sua vocação. Após estudar direito civil e completar 18 anos, o jovem Dehon ingressou no seminário.
Ordenado sacerdote diocesano sentia um chamado especial mesmo já sendo padre. Na França do século XIX, marcada pela exploração dos operários nas indústrias e fábricas, Pe. Dehon fez de sua escrita um meio eficaz para a defesa dos trabalhadores. Homem de profunda mística eucarística e devoção ao Coração de Jesus, fundou o Colégio São João onde mais tarde seria a primeira obra da congregação. Não encontrando carisma religioso que respondesse aos seus anseios e inspirado por Deus, fundou a Congregação dos Oblatos do Coração de Jesus, posteriormente denominada Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.
Já nos primeiros anos a congregação contou com muitos membros que abraçaram as missões na África e na América. Marcaram a personalidade de Pe. Dehon sua profunda vida espiritual e sua vida intelectual expressa por meio da escrita. Faleceu em Bruxelas, com fama de santidade, em 12 de agosto de 1924. Seu processo de beatificação e canonização deram passos significativos nas últimas décadas. Hoje, Pe. Dehon é venerável.
D) O que significa SCJ?
A sigla SCJ é a abreviação de Sagrado Coração de Jesus. Por isso, um religioso dehoniano possui SCJ ao final de seu nome, para expressar que ele é um religioso do Sagrado Coração de Jesus. Tal prática é antiga na Igreja em relação a uma congregação religiosa. Ao professar os votos temporários de castidade, pobreza e obediência, o religioso ou a religiosa já traz em seu nome a sigla de sua família religiosa.
E) Quando começou a devoção ao Sagrado Coração de Jesus?
A devoção ao Coração de Jesus tem por fundamento bíblico o transpassar do coração de Cristo no alto da cruz de onde jorraram sangue e água. Mas o coração nas Sagradas Escrituras também se refere a humanidade de Jesus. Mas foi a partir do século XVII, com Santa Margarida Maria Alacoque, que o culto ao Coração de Jesus passou a ter grande influência na Igreja. Naturalmente que a França, onde Pe. Dehon nasceu e foi padre, foi um dos países que mais contribuiu para com a devoção ao Coração de Jesus. Hoje, a Missa reparadora da primeira sexta-feira do mês e movimentos que bebem dessa devoção ainda marcam a vida diária de fé de muitos católicos.
F) Em que dia é comemorado o Sagrado Coração de Jesus?
Celebra-se a solenidade do Sagrado Coração de Jesus anualmente na segunda sexta-feira após a Solenidade de Corpus Christi.
Pe. Guilherme César Silva Rocha, scj
Vigário paroquial da Paróquia Santuário São Judas Tadeu
